terça-feira, outubro 05, 2004

Menina-mulher

Nos últimos dias ela pensara muito na frase que Caio dissera quando se viram pela última vez há duas semanas. "O que uma mulher bonita está fazendo sozinha?" Não lhe respondeu na hora, mas pensou que estava sozinha, pois queria estar com ele e mais ninguém, oras! Depois, aquela frase ficou martelando sua mente. Mulher? Ela era apenas uma menina!
Para ela, a palavra mulher tinha muito peso. Se já não bastasse ter que resolver tudo sozinha em sua vida (pagar o aluguel, cuidar da saúde, instalar chuveiro, furar o azulejo, chamar o encanador...), tinha também que ser uma mulher? Apesar de estar prestes a completar 33 anos, sentia-se uma menina. Não se via como mulher. Claro que essa impressão não tinha relação alguma com sua feminilidade.
Às vezes tinha a impressão de que carregava o mundo nas costas e que aquilo nunca teria fim. Afinal, era ela por ela mesma. Tinha saudade de quando se derretia nos braços de seu pai que, carinhosamente, a acalmava e encontrava a melhor solução para todos os seus problemas, sempre! Porém, em boa parte do tempo, tinha a certeza de que era uma guerreira. Sabia que se seu pai a visse hoje, sentira um imenso orgulho de tê-la como filha.
E ela tinha que se aceitar como mulher forte que era. Porém, tinha medo de amadurecer. Fora assim, aos 11 anos, quando ficou menstruada. Assustada com a transformação do corpo, a criança chorava, pois não queria ficar moça. Era assim agora. Era mulher e queria ser menina. Responsável e direitinha -como a rotulara Caio-, mas que pudesse sair da linha quando bem entendesse.
Queria que alguém tomasse suas dores, que resolvesse suas coisas. Ao menos de vez em quando. Não queria se preocupar com nada. Nem mesmo no que sentia por Caio. Temia que a mulher, que a cada dia ficava mais forte, sufocasse seus sonhos de menina. Que essa mulher fosse ponderada o bastante para dar uma guinada em sua vida. Não queria perder seus ares de menina. Não confiava o suficiente nessa nova mulher na qual estava se transformando. Essa mulher teria sonhos novos. Ela tinha medo do novo.

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