domingo, outubro 21, 2007

Dia de Palermo Viejo


Como Virgínia Wolf, estava disposta a chegar às profundezas de algum rio, desde que não fossem Pinheiros ou Tietê, naturalmente. Mais uma vez, estava prestes a perder o seu foco. Então, lembrou-se do momento iluminado que tivera há alguns meses em Palermo Viejo. Por ela, ficaria naquela praça, do bairro de origem italiana, pro resto de sua vida.

Pediu um café e escolheu uma mesa que lhe desse uma visão privilegiada daquele cenário. O sol, embora enfraquecido salientava a sensação única e indescritível do seu primeiro dia de férias. O fim de tarde, o ar frio e as árvores secas marcavam a presença dos últimos dias do outono na capital argentina.

A luz, o ar, o perfume natural de Buenos Aires impregnavam sua alma e marcavam seu novo ciclo, deixando para trás momentos incompreendidos e sentimentos confusos. Estava certa de que para viver bem necessitava somente de coisas simples. De que poderia continuar seu caminho, sozinha e satisfeita consigo mesma, desafiando e superando seus medos, suas angústias. Nada ou ninguém a desviaria de seu eixo.

Não fazia a mínima idéia do que aconteceria nos próximos minutos e horas ali. E isso a fascinava ainda mais. Serena e confiante, caminhou pelas ruas sem pressa, nem ansiedade. Observava cada detalhe, cada aroma, cada cor. Saboreava cada frase que escutava.
Não queria muito. Não queria nada. Não queria pouco. Não queria tudo. Apenas o suficiente e o simples. Aqueles dias sozinha mudariam para sempre sua maneira de encarar a vida.

Pela primeira vez, não sentira saudade de coisa alguma ou de alguém. Somente desejava que todas as pessoas que amava ganhassem de presente um momento tão especial como aquele. Palermo Viejo havia dado um novo sentido à sua vida. E ela estava disposta a voltar para lá sempre que estivesse prestes a sair do seu foco. Mesmo que voltar, fosse somente pelas lembranças.