Era seu último dia de férias. Nada do que lhe dissessem a faria melhorar o humor. Há dias não esboçava um sorriso. Mal conseguia falar. Só chorava. Estava em depressão, coitadinha.
Por mais que quisesse se libertar daquele nó que sufocava o seu coração, não conseguia. Era mais forte do que ela. Estava completamente apaixonada. Caio não dera mais nenhuma notícia, depois do encontro ocasional que tiveram há duas semanas, em outra cidade.
Amigos falavam daqui. Amigas dali. Psicológa acolá... e nada! O nó ainda estava lá, resistente como o nó dos marinheiros. Um psiquiatra, talvez, pudesse amenizar a situação. Uns remediozinhos não fariam mal algum. Afinal, já que o Caio não podia estar ao seu lado naquele momento, ou nunca mais em momento algum, que a química a ajudasse a amolecer esse nó. Pelo menos por enquanto. Tentou marcar a consulta, mas só para dali a um mês. Muito tempo! Em um mês ela teria cortado os pulsos!!!
Ela queria respostas. Queria que a verdade viesse à tona. Mas Caio já tinha aberto o jogo. Nada poderia acontecer com eles naquele momento. Apesar da nobreza e da sinceridade de Caio, ela tinha certeza de que ele estava omitindo muitas verdades. Queria vê-lo. Precisava do carinho que ele não podia ou não queria lhe dar. Racionalmente, desejava esquecê-lo...
Então, pensou no trecho que leu naquele último dia de férias, do livro Memorial do Convento, de José Saramago:
"Se não houvesse tristeza nem miséria, se em todo lugar corressem águas sobre as pedras, se cantassem aves, a vida podia ser apenas estar sentado na erva, segurar um malmequer e não lhe arrancar as pétalas, por serem já sabidas as respostas, ou por serem estas de tão pouca importância que descobrí-las não valeria a vida duma flor"
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