segunda-feira, outubro 31, 2005
Amour Dissolu
Mais uma noite. Mais um corpo. Mais vinho tinto. Mais um cheiro.
De novo o fluido, muitas vezes confundido com amor, escapa das entranhas...
Tinha que ser assim. Era sempre assim. Cada dia, outra história. Novo personagem. Diversão. Ilusão. Distração. Iguais sentimentos. Solidão. Cansaço. Decepção. Em vão...
Fetiche. Luxúria. Excitação. Petite Morte. Sexo é só sexo. Universo paralelo ao amor. Intenso, envolvente, alucinante, libertino... instante de liberar tensões. É assim e ponto!
Sem amarras. Apenas plagiando “Ata-me”. Sem cobranças nem comprometimento. Sem apego ou obrigação de continuar, começar ou terminar. Só se jogar...
Vítima e algoz da moderna sociedade líquida, a independente mulher contemporânea acompanha o ritmo desvairado de viver o momento. Segue o fluxo...Escapa. Deixa-se escapar. Evita equalizar sexo ao amor. Volta.
Vive entre a dicotomia do descartável e do eterno: render-se à instabilidade emocional da modernidade ou persistir na busca do insólito amor real?
Ela quer apenas um amor:
Equilibrado, ponderado, pensado amor...
Sonhado, imaginado, plagiado, inspirado amor...
Expresso, instantâneo, intenso amor...
Doce, enjoado, amargo, doente amor...
Alucinado, insano, desesperado, dissoluto amor...
Fluido, líquido, corrente, descartável amor...
Sagrado, sofrido, suado, salgado amor...
segunda-feira, outubro 03, 2005
Balangandãs de pensamento
Uma vez mais o meu coração tornou-se um punho fechado embebido de sangue. Dor. Culpa, dúvida, angústia... Até quando esse músculo fibroso resistiria a tanto dissabor?
Novamente, tive a impressão de ter acabado de perder alguém muito querido. Não sentia frio, calor, fome ou sede. Não fazia diferença: manhã, tarde ou noite. Tudo era nada. E nada mais fazia sentido. Não sabia mais quem eu era. Queria gritar, mas a voz não saía.
Emaranhada num balangandã de pensamentos que iam e vinham, atirei-me ao ritmo electro da frenética São Paulo. Infindáveis cores, vozes, aromas, sons dissonantes, comentários dissimulados...Revelações, decepções...
Por muito tempo, acreditei que poderia equalizar as batidas extasiantes do electro com o barulho dos grilos e dos vagalumes... Não consegui. Pelos menos por enquanto!
Pensei em “Má educação”, de Almodóvar. Embora tentasse fazer funcionar o dvd várias vezes, não pude terminar de assistir ao filme, pois a falha tecnológica não permitiu.
É exatamente assim com muitas coisas na vida. Tentamos, tentamos, tentamos e a situação não muda. Por que? Por que não tinha que mudar. Porque não era para ser vivida até o final. Porque era melhor não saber o final. Porque não era o momento. Porque não era o componente certo. Porque as palavras não seriam ditas suavemente.
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